A imagem da advocacia em Roraima tem enfrentado uma crise. Dados divulgados pelo Núcleo de Estatística e Análise Criminal da Polícia Civil revelam que o número de advogados investigados por práticas criminosas no estado tem crescido, acendendo um alerta não apenas para o sistema de Justiça, mas também para a sociedade.
Somente em 2024, foram registrados 200 boletins de ocorrência envolvendo profissionais do Direito como suspeitos de crimes. Já em 2025, até o mês de maio, 55 novas ocorrências envolvendo advogados como principais suspeitos foram contabilizadas. Esta semana outro advogado foi alvo de operação por suspeita de enganar um cliente e não entregar o dinheiro.
Em 2024 os casos se espalham pelos municípios de Amajari, Boa Vista, Cantá, Caracaraí, Mucajaí, Pacaraima e Rorainópolis. Em 2025, Boa Vista e Cantá concentram a maioria desses registros.
Os crimes mais frequentes entre os denunciados de 2024 são estelionato (30), ameaça (29), calúnia (14), difamação (13), lesão corporal (8) e até lesão corporal culposa no trânsito (7). Nos primeiros meses de 2025, os crimes mais praticados foram estão injúria (9), ameaça (8), calúnia (6), constrangimento de menores (7), difamação (7) e lesão corporal (5).
O perfil predominante é o masculino: 144 dos suspeitos são homens, 37 mulheres, e 19 não tiveram o sexo identificado nos registros.
Quatro casos de crimes envolvendo advogados em 30 dias
🔹 1. Violência Doméstica e Descumprimento de Medida Protetiva
Um advogado de 41 anos foi preso preventivamente após descumprir medida protetiva de urgência em favor da ex-companheira. Segundo a Polícia Civil, ele a perseguia, a agredia verbalmente e a constrangia, inclusive sob efeito de drogas. Mesmo após ser orientado a manter distância, ele foi até o mesmo local da vítima e fugiu do acompanhamento da viatura. A Justiça decretou a prisão preventiva após representação do Ministério Público.
🔹 2. Pornografia Infantil
Durante a Operação Caminhos Seguros, um advogado de 47 anos foi preso em flagrante por suspeita de armazenar e compartilhar material pornográfico infantil. A investigação começou após denúncia de uma garota de programa, que apresentou mensagens e imagens trocadas com o suspeito. A Polícia confirmou sua identidade e apreendeu computadores e celulares com evidências dos crimes. Ele ficou em silêncio durante o flagrante e segue sob investigação.
🔹 3. Fraude Contra o Seguro DPVAT
Um advogado e ex-delegado de polícia foi indiciado por suspeita de fraudar o seguro DPVAT com documentos falsos e versões contraditórias de um suposto acidente. O inquérito aponta que ele possivelmente comandava um esquema que envolvia funcionários de uma empresa de despachantes e usava uma vítima laranja para tentar receber a indenização. A fraude foi descoberta pela seguradora e resultou no indiciamento de quatro pessoas.
🔹 4. Estelionato e Falsos Acordos Judiciais
Um advogado de 31 anos é investigado como suspeito de liderar um golpe com promessas de lucros altos e rápidos a partir de falsos acordos judiciais. A fraude, que funcionava como uma pirâmide financeira, causou prejuízos superiores a R$ 1 milhão. Ele é investigado por apresentar sentenças falsas, exigir pagamentos antecipados e prometer retornos de até 100% em 30 dias. Foi alvo de operação com busca e apreensão em dois imóveis e no escritório de advocacia. A OAB suspendeu sua carteira.
Em outro episódio recente, um ex-delegado e advogados estão sendo investigados por fraudes contra o INSS, com foco em golpes direcionados a imigrantes venezuelanos.
A Polícia Civil reforça que os dados são estatísticos e que todos os casos estão sob investigação, obedecendo o devido processo legal. No entanto, o número de ocorrências envolvendo crimes como falsificação de documentos, apropriação indébita, corrupção de menores, desacato e até violência doméstica aponta para um fenômeno preocupante.
OAB – O outro lado
A seccional roraimense da Ordem dos Advogados do Brasil tem acompanhado os casos mais recentes e participado das operações, no entanto vem recebendo cobrança crescente de maior rigor no controle ético da profissão e punições exemplares. A reportagem do Política Macuxi procurou a assessoria de comunicação da OAB para saber se a entidade se pronunciaria sobre o caso, mas não recebeu resposta até o momento. O espaço segue aberto.