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Palavras que geram renda: o poder da literatura na Amazônia empreendedora

Com apoio do Sebrae e o uso de inteligência artificial, Michel Sales escreveu mais de 30 livros desde o início da pandemia e criou um novo caminho de inclusão na literatura amazônica

 Por Cyneida Correia

Oficina literária do escritor Michel Sales no Sesi, juntamente com o personagem Vaqueirama

 

No extremo Norte do Brasil, onde o céu se mistura com o lavrado e as lendas indígenas ainda sopram com o vento de Cruviana, um contador de histórias tem reinventado o jeito de fazer literatura e viver de cultura.

Michel Sales, jornalista, profissional de educação e autor de mais de 30 livros escritos desde 2019, é hoje um nome emblemático da nova economia criativa que brota em Roraima — com apoio direto do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) ele aprendeu a usar a inteligência artificial como aliada em suas histórias.

Diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e altas habilidades já na vida adulta, Michel sempre encontrou nos livros uma forma de expressão emocional e reconhecimento.

Oficina literária com alunos do Sesi

Produção literária intensa e o hiperfoco criativo

Enquanto o mundo ao redor parecia difícil de decifrar, a escrita se tornou a ponte entre seu universo interior e o mundo exterior. Sua mente inventa sem parar — são ideias, personagens, enredos que surgem como ondas — e ele corre para anotar tudo no computador antes que desapareçam. Ali, em silêncio e imerso em seu hiperfoco, ele dá vida a universos completos. Cada história, ao ganhar palavras, vira também imagem — ele próprio cria as ilustrações com ferramentas de inteligência artificial, dando forma ao que antes só existia em seu pensamento

“A Inteligência Artificial veio como uma libertação”, conta Michel. “Eu tinha muita dificuldade de trabalhar com outros artistas por conta da minha inflexibilidade cognitiva e a falta de habilidade social, que prejudicavam minha comunicação. Sempre queria que os prazos fossem cumpridos corretamente o que nem sempre é fácil para um artista. E a maioria não conseguia desenhar o que eu tinha na mente tão claramente. Mas, com os cursos do Sebrae, aprendi que eu mesmo podia ilustrar as histórias que estavam na minha cabeça — e que ninguém antes conseguia traduzir do modo como eu queria”.

Com ferramentas de inteligência artificial, ele desenha as imagens que deseja e, como ele mesmo diz, “elas se tornam o que quiserem”. O Fel do Timbó é exemplo dessa revolução: uma lenda indígena transformada em obra visual com qualidade artística e rapidez de produção, permitindo reduzir custos sem sacrificar a qualidade.

Empreendedorismo

Michel não se contenta em apenas escrever. Ele empreende com coragem. Participa da Tenda da Economia Criativa nos grandes eventos como o Viva Roraima, que impulsiona o empreendedorismo local, fomenta renda e promove o desenvolvimento econômico, e seus livros — com tiragens modestas e conteúdo acessível — estão presentes em feiras, escolas públicas e circuitos literários voltados às infâncias e juventudes da região.

Ele também disponibilizou suas obras em várias plataformas online, como Amazon e Hotmart, onde são vendidas a preços variados para aqueles interessados na literatura da Amazônia.

“A Economia Criativa é um setor econômico que engloba atividades que utilizam a criatividade, a cultura e o conhecimento para gerar riqueza e emprego — incluindo a área da escrita. A literatura, nesse contexto, se consolida como uma importante vertente da Economia Criativa, com oportunidades para autores, editoras e outros profissionais do setor. Michel é prova viva desse potencial que o Sebrae está valorizando na economia criativa pois se tornou um empreendedor de sucesso”, explicou o superintendente do Sebrae Roraima, Emerson Baú.

Michel Sales no Viva Roraima com o vice-governador Edilson Damião e o superintendente do Sebrae Emerson Baú

Obras como Juanito e Sua Corda Mágica, Macuxi: Contos do Multiverso e Xic@ Tagarela dialogam com temas como identidade cultural, inclusão, preservação ambiental e ancestralidade indígena. Muitas dessas histórias, aliás, foram narradas por integrantes do povo Macuxi que não sabem ler nem escrever, mas que se emocionaram ao ver seus mitos transformados em livros ilustrados.

 “Eles ficaram felizes e se sentiram respeitados. Eu quis devolver em forma de arte aquilo que eles me deram em sabedoria”, conta Michel. “Meu objetivo é construir uma ponte de possibilidades, onde pessoas como eu sejam reconhecidas por seus talentos — e não pelos desafios que enfrentam”, reflete.

A força da economia criativa em Roraima

Os números da economia criativa

A economia criativa tem se consolidado como uma força estratégica para o desenvolvimento econômico e social, especialmente em regiões como Roraima. Dados recentes revelam que o estado registrou um salto expressivo no número de empresas atuando no setor: entre 2019 e 2024, o total quase dobrou, passando de 2.833 para 5.472 negócios ativos. Desses, cerca de 66% são compostos por Microempreendedores Individuais (MEIs), reforçando o protagonismo dos pequenos empreendedores no fomento à cultura, ao design, à tecnologia e às demais expressões criativas. Essa expansão, de aproximadamente 93%, sinaliza um ambiente de negócios vibrante, ancorado na criatividade e na capacidade de inovação da população local.

Apesar do cenário promissor, o setor ainda enfrenta desafios estruturais. Segundo levantamento do Sebrae, a taxa de mortalidade empresarial entre os empreendimentos criativos em Roraima é de 41,5%, evidenciando a necessidade de políticas públicas mais eficazes, acesso facilitado ao crédito e apoio à profissionalização. “O ecossistema criativo de Roraima é dinâmico e carrega um enorme potencial de geração de renda e inclusão. Mas para avançar, é preciso investir em capacitação, infraestrutura e estratégias de consolidação de mercado”, destaca Iris Lima, gestora do Projeto de Economia Criativa do Sebrae-RR. Com ações direcionadas, o setor tem tudo para se tornar um pilar ainda mais robusto do desenvolvimento sustentável no estado.

Agente Cultural na Amazônia

Com o escritor imortal Aldenor Pimentel no Sesi no Dia da Família da escola do Sesi

Hoje, com o apoio de iniciativas como o Sebrae, Michel se reinventa como agente cultural e mostra que o futuro da economia amazônica pode passar pela valorização da arte e do conhecimento local.

Além de escritor, Michel é também produtor de eventos e articulador cultural. Organizou ações como o Comics Fãs em Boa Vista, promovendo cultura geek e literatura, e participou de feiras escolares, projetos de incentivo à leitura e eventos em shoppings locais — sempre levando consigo os livros e a vontade de construir uma Roraima mais literária e inclusiva.

Já conseguiu aprovar a publicação de 10 livro pela Lei Paulo Gustavo e agora leva suas histórias de forma impressa para as comunidades indígenas e escolas do interior.

Na mente inquieta de Michel Sales, não há pausa para a criação. Com o apoio de iniciativas como o Sebrae, ele transforma barreiras em caminhos e histórias em pontes. A literatura, aliada à tecnologia, tornou-se não só seu refúgio, mas seu instrumento de transformação. E ao contar o mundo com as cores do Norte, Michel mostra que o futuro da Amazônia cabe em páginas escritas com sensibilidade, coragem e inovação.

Veja outras histórias de empreendedores apoiados pelo Sebrae nesta página.

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