Em uma reviravolta política que está abalando as estruturas do poder em Roraima, o presidente da Assembleia Legislativa, Soldado Sampaio (Republicanos), declarou em discurso na tribuna que não mais apoiará o Governador Antonio Denarium (Progressitas).
A declaração marca uma ruptura não esperada na política roraimense, especialmente considerando a proximidade anterior entre os dois políticos, que compartilharam uma trajetória de colaboração e apoio mútuo.
Sampaio na tribuna da Assembleia enfatizou sua capacidade de diferenciar as questões políticas das institucionais, prometendo continuar a apoiar projetos que beneficiem a população, independentemente de suas divergências com o governador.
O presidente da Assembleia fez uma retrospectiva de sua aliança com Denarium, lembrando o apoio crucial que ofereceu durante a campanha de reeleição de Denarium, mesmo quando as probabilidades pareciam desfavoráveis.
Falta de relação com a Base
Apesar de reconhecer os avanços alcançados sob a administração governista, Sampaio expressou preocupações com o que descreve como um desvio do compromisso do governador com a escuta ativa e a inclusão.
“Me preocupou que após as eleições ele se achava sabedor de tudo e não ouvia ninguém. Centralizou a administração de uma forma, como se o governo fosse uma empresa sem ouvir anseios sociais e sem ouvir a sociedade”.
Relacionamento com a Ale
Um dos pontos de tensão destacados por Sampaio foi a manipulação de emendas parlamentares e a pressão exercida sobre deputados aliados para fazerem manifestação públicas de apoio do governo.
“Nas redes sociais, o governador exigia que deputados gravassem vídeos elogiando a liberação de emendas, ou ele mesmo instruía e pressionava para que falassem positivamente do governo. Vi colegas constrangidos por essa prática, como se estivessem parcelando emendas na Casas Bahia em 5 ou 10 vezes para serem liberadas, o que é inaceitável. Parece que o governador não reconhece o papel fundamental do parlamento, que representa os interesses da população de Roraima. Essa atitude de narcisismo e desrespeito evidencia um claro desprezo pelo poder legislativo. Fomos eleitos para servir, e desde que o conheci, mesmo sem seu apoio em meus três mandatos anteriores, essa autonomia me confere segurança. Não concordo com essa forma de governar e resolvi nao compactuar com isso em todos os sentidos”
Tratado como “serviçal”
Sampaio expressou sua decepção e afirmou que nas negociações políticas em torno de sua candidatura a prefeito foi tratado como “serviçal” pelo governador.
“Reconheci a necessidade de sacrificar meu interesse pessoal pelo bem do grupo. Esperava um simples agradecimento do governador, interessado na candidatura de Catarina. Contudo, fui desrespeitosamente tratado por um marketeiro vinculado ao governo, sendo que o governador não disse nem um “obrigado”. Minimizando esses incidentes e outros tratamentos desrespeitosos com os deputados, continuei meu caminho, priorizando a dignidade e o respeito mútuo na política”
Vigilância parlamentar
Sampaio também levantou preocupações sobre a segurança e a vigilância sobre parlamentares, descrevendo tais ações como desrespeitosas e potencialmente criminosas.
“Durante a eleição da primeira dama para o tribunal de contas, recebi a denúncia de que policiais da inteligência do governo seguiram e fotografaram o deputado Jorge Everton nas vicinais e ruas. Minimizamos o caso, considerando-o uma disputa eleitoral. Situação similar ocorreu recentemente com o deputado Rarisson, que se sentiu intimidado por ser monitorado. Questionamos o governador sobre essas ações. Tal comportamento é, no mínimo, um desrespeito e potencialmente criminoso. Abordei o assunto de maneira institucional e republicana, exigindo esclarecimentos até quarta-feira, rejeitando explicações vagas de secretários. Caso não recebamos uma resposta satisfatória, tomaremos providências. Como poderes equivalentes, exigimos respeito, sem querer transformar isso em um conflito maior, apesar de ser apenas mais um entre vários incidentes”.
Chamado para oposição
Ao finalizar seu discurso, Sampaio fez um chamado aos colegas deputados que desejam se posicionar como oposição ao governo atual, oferecendo-se para liderar um movimento que busca restaurar a dignidade e a responsabilidade no exercício do poder público em Roraima.
Ele ressalta sua decisão de romper com o governador como definitiva, sublinhando a necessidade de uma nova direção na política estadual que respeite a voz dos representantes eleitos e, por extensão, da população que servem.
“Nao me interessa mais composição política com Denarium e essa decisão é ‘prego batido, ponta entortada e martelo jogado fora’. Meu posicionamento político nas eleições 2024 vou decidir com cuidado e calma”