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Mural de R$ 400 mil continua a descascar e Justiça põe sigilo em processo

O emblemático mural do artista brasileiro Eduardo Kobra, localizado no Parque do Rio Branco em Boa Vista, Roraima, continua descascado, 3 anos após ser pintado, enquanto a justiça decreta sigilo sobre o processo.

O mural, com mais de 180 metros de comprimento, representa uma gigantesca iguana e foi inaugurado com pompa e circunstância em dezembro de 2020, com um investimento de R$ 400 mil dos cofres públicos, apesar do artista nunca ter colocado os pés em Roraima.

No entanto, em abril de 2021, apenas quatro meses após sua inauguração, o mural começou a apresentar sérios problemas, com a pintura descascando e se deteriorando, levantando suspeitas de má qualidade na execução da obra.

A equipe de Kobra, então, restaurou a obra de arte em maio de 2021 sem custos, segundo informou a prefeitura, mas agora ela voltou a descascar.

A reportagem do Política Macuxi procurou a prefeitura de Boa Vista que informou por meio da Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura (FETEC)  que uma equipe técnica já está fazendo o levantamento para tomar as devidas providências.

Operação Aquarela

Os graves problemas de deterioração, mesmo após uma restauração realizada pela equipe do próprio artista, continuam e foram alvo de uma operação em julho de 2022, chamada de “operação Aquarela”.

A operação Aquarela cumpriu quatro mandados de busca e apreensão e foi deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de Roraima e pela Polícia Civil.

A investigação da Promotoria do Patrimônio Público e da Polícia Civil é de que houve superfaturamento de contrato de serviço, e que ele não foi entregue como deveria. Os crimes investigados são fraudes em contratos públicos, peculato e falsidade ideológica.

Na época da operação, o Gaeco afirma que o “contrato se deu com dispensa de licitação, sob o argumento de que somente o artista poderia executar tal obra” e que, na investigação, foi verificado que não foi o artista contratado quem executou o serviço. “A arte e pintura deveriam ser realizadas exclusivamente pelo artista contratado. Esta também foi a justificativa para a dispensa de licitação, visto se tratar de artista renomado”, disse.

O artista, no entanto, reafirmou que não pôde viajar ao estado porque pertencia ao grupo de risco da Covid. “Eu não poderia viajar até Roraima por respeito ao isolamento e pelo fato de eu pertencer a um grupo de risco, o que aumentava exponencialmente meu perigo de contrair Covid. Durante a Pandemia fizemos poucos trabalhos, quase todos foram beneméritos, para arrecadar fundos para pessoas necessitadas e entidades que atuam na área da Saúde”, reforçou Kobra.

Outro lado

A reportagem do Política Macuxi procurou o Ministério Público, o Tribunal de Contas do Estado, o Tribunal de Justiça e a Prefeitura de Boa Vista e a secretaria de segurança pública para falar sobre o andamento da investigação.

Em resposta aos questionamentos sobre a execução da obra e as suspeitas de irregularidades, o Ministério Público informou que o caso está em sigilo, não divulgando informações sobre as situações que envolvem o artista Eduardo Kobra e a prefeitura, mesmo passado tanto tempo da operação.

O Tribunal de Justiça e o Tribunal de Contas de Roraima não responderam a demanda, assim como a Prefeitura de Boa Vista. O espaço segue aberto.

Já a Polícia Civil de Roraima também não respondeu a demanda.

Nesse cenário, a iguana gigante pintada por Eduardo Kobra continua a despertar atenção não apenas pela sua magnitude artística, mas também pelo enigma que envolve sua deterioração, alimentando debates sobre a importância do investimento em projetos artísticos e da transparência nos contratos públicos.

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