A prisão do corretor e assessor Jackson Renei Aquino de Souza, nesta terça-feira (22/7), revelou um elo direto com um dos maiores ataques cibernéticos já registrados no Brasil.
Durante a ação conjunta da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), foram apreendidos R$ 700 mil em espécie, fruto de operações fraudulentas que esvaziaram contas de pagamentos instantâneos (PIX) de diversas instituições financeiras no fim de junho.
Segundo a PF, recebeu valores expressivos em sua conta bancária provenientes de empresas ligadas ao esquema criminoso. Também lotado na Assembleia, Jackson está de férias, segundo foi informado em nota oficial e será demitido após a descoberta do crime.
Sem apresentar justificativas plausíveis para a posse do dinheiro em espécie, ele foi preso em flagrante por lavagem de dinheiro.
A PF chegou ao assessor após receber alerta da Coordenação de Repressão a Fraudes Bancárias Eletrônicas de que havia um saque de R$ 1 milhão agendado para o dia 22. Na apuração, descobriu-se que cerca de R$ 2,4 milhões haviam sido depositados em sua conta poupança, valores supostamente relacionados ao ataque cibernético.
Os repasses foram feitos por duas empresas que, conforme rastreamento do Banco Central, têm vínculo com o desvio milionário: uma delas transferiu R$ 1,85 milhão, e a outra, R$ 600 mil.
Em depoimento, Jackson negou conhecer as empresas e alegou que os valores seriam de um garimpeiro venezuelano, com quem negociava a compra de uma fazenda em Roraima. Ele disse que utilizou sua conta por acreditar que lucraria com a intermediação do negócio.
A investigação integra a Operação Magna Fraus, que apura como hackers conseguiram desviar quase R$ 800 milhões de bancos por meio de ataques coordenados à infraestrutura de tecnologia da empresa C&M Software (CMSW), responsável por intermediar transações via PIX.
Na audiência de custódia, o juiz Marcelo Mazur decretou a prisão preventiva com base no risco que ele representa “à ordem pública e ao sistema financeiro”.
O ataque que abalou o sistema financeiro
De acordo com o Banco Central do Brasil (BC), o ataque hacker foi direcionado à CMSW, empresa que conecta instituições financeiras menores ao sistema PIX. Criminosos se aproveitaram de credenciais sigilosas e acesso privilegiado de funcionários para invadir as plataformas e efetuar transferências fraudulentas.
Entre 22 e 30 de junho, o funcionário João Nazareno Roque, operador de computador júnior da CMSW, teria facilitado a invasão ao sistema do Banco BMP, resultando na subtração de R$ 479 milhões. João, de 48 anos, foi preso em São Paulo no bairro City Jaraguá, após investigações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Vídeos da prisão já circulam em portais de notícias.
O elo com Roraima
As autoridades descobriram que parte dos recursos desviados foi “lavada” em Boa Vista, onde o corretor imobiliário preso atuava como “laranja”. Ele teria movimentado grandes valores em sua conta para ocultar a origem ilícita do dinheiro, que era então convertido em espécie e reinserido no sistema financeiro por meio de investimentos imobiliários.
“Há indícios claros de que o preso em Roraima era um dos canais de dispersão dos valores desviados do sistema bancário. Ele participava ativamente da logística de conversão do dinheiro furtado em ativos menos rastreáveis”, informou uma fonte ligada à investigação.
Investigações continuam
A PF e o MP-SP seguem rastreando o fluxo do dinheiro e investigando possíveis envolvimentos de outros corretores, empresários e até casas de câmbio. Segundo os investigadores, o volume financeiro e a sofisticação da fraude indicam uma organização criminosa nacional, com ramificações que vão de São Paulo a Roraima.



