Por Cyneida Correia
Os céus de Boa Vista, capital de Roraima, foram novamente cortados por caças supersônicos da Força Aérea Brasileira (FAB) neste final de semana, em voos de treinamento que ultrapassaram os limites da prudência. Moradores dos bairros próximos à Base Aérea, como o Aeroporto, Paraviana e Caçari, relataram momentos de pânico, sustos e até acidentes domésticos provocados pelos rasantes das aeronaves.
Além do estrondo ensurdecedor — que pode alcançar níveis perigosos de decibéis — os voos têm causado impactos físicos e emocionais em pessoas vulneráveis, como crianças com Transtorno do Espectro Autista, recém-nascidos e idosos.
O caso mais grave registrado nesta semana foi o da moradora H.S.C., que vive no bairro Aeroporto, a poucos metros da Base Aérea
“Quando fui fechar o box do banheiro, com a janela ainda entreaberta, o barulho foi tão forte que os vidros estouraram e caíram em cima do meu braço. Fiquei toda cortada, um dos cortes bem na veia do braço. Ainda não tive coragem de juntar tudo. Imagine se meu neto estivesse aqui”, relata. A moradora também tentou contato com a Comunicação da Base, mas não conseguiu retorno até o momento da publicação.
Enquanto isso, H.S.C. diz que vai buscar os direitos legais: “Vou procurar orientação jurídica. Isso não pode continuar. Hoje foi só um corte no braço. Amanhã pode ser uma tragédia”.
Barulho semelhante a explosão
O barulho causado pelos caças F-5EM — aeronaves que chegam a atingir até 1.960 km/h — tem assustado até os moradores mais acostumados com a movimentação militar na cidade. “Eu e minha bebê acordamos assustadas. Achei que o avião estava caindo. O barulho desses caças tem sido muito alto, nunca tinha ouvido algo assim”, relatou outra moradora nas redes sociais.
Vídeos compartilhados por internautas mostram o caça sobrevoando áreas densamente povoadas, muito próximos as casas, até mesmo no domingo.
Além da imprudência dos pilotos do chamado “Esquadrão Escorpião” com seus voos rasantes, a ausência de aviso prévio sobre os voos de treinamento é outra das principais críticas dos moradores. A FAB não teria divulgado comunicado oficial sobre os exercícios. Segundo fontes extraoficiais, os voos fazem parte de ações de preparação militar voltadas à segurança da fronteira, principalmente diante da tensão entre Venezuela e Guiana pelo território de Essequibo.
Apesar do argumento da segurança nacional, moradores questionam os métodos. “Não somos contra os treinamentos, mas precisam respeitar quem vive ao redor. Um rasante desses pode causar convulsões em autistas, crises de ansiedade em idosos, acidentes com crianças. Isso é inadmissível”, disse a pedagoga e ativista comunitária M.F., que também vive na zona Oeste da capital.