Compartilhe esta notícia:

Vereador protegido? Denúncias de agressão avançam, mas Câmara permanece calada

A Câmara Municipal de Boa Vista ainda não instaurou sindicância interna para apurar as denúncias contra o vereador Júlio Cézar Medeiros Lima (MDB), de 45 anos, acusado de agredir o ex-assessor Marcos Dantas Limas, de 43 anos.

Já foi apresentado um pedido formal de cassação do mandato, em razão da gravidade das acusações, mas por enquanto não foi aberta investigação no âmbito do Legislativo,

Segundo o Boletim de Ocorrência e a denúncia no Ministério Público registradas por Marcos, o vereador o teria agredido com socos no rosto no dia 1º de fevereiro de 2025, em frente à casa do assessor, no bairro Cinturão Verde.

O motivo, ainda conforme relato da vítima, seria a desconfiança de que ele teria “falado mal” do parlamentar. Com ferimentos significativos, Marcos precisou levar 15 pontos no rosto.

Após a agressão, Marcos afirmou que um funcionário de Júlio Cézar foi até sua residência e levou seu carro. O ex-assessor disse estar abalado e segue aguardando as investigações policiais e a apuração da Câmara Municipal.

Câmara Municipal e sindicância

Em nota, o presidente da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, vereador Ítalo Otávio (Republicanos), confirmou que qualquer cidadão pode apresentar denúncia formal à presidência da Casa, mas explicou ao Política Macuxi que ate agora a denúncia não chegou à Comissão. No entanto, o política Macuxi teve acesso a um documento comprovando que a denúncia deu entrada na Casa esta semana.

Uma vez recebida, a Comissão deve designar um relator para conduzir as oitivas e análises das provas. A expectativa é de que tanto o ex-assessor quanto o vereador sejam ouvidos pela Comissão, que deve emitir parecer sobre o caso. Caso as acusações sejam confirmadas, há a possibilidade de suspensão ou até perda do mandato.

Histórico de agressões e ameaças

Esta não é a primeira vez que o vereador Julio se envolve em confusões e denúncias de violência. Abaixo, uma linha do tempo com alguns dos principais episódios que constam em registros oficiais e relatos de testemunhas:

  • 2016: Júlio Cézar protagonizou um desentendimento com o então presidente da Câmara, vereador Edilberto Veras, dentro do plenário. O caso foi parar na delegacia.

  • 2018: A então chefe de gabinete do parlamentar o denunciou por agressões físicas e ameaças. A Câmara até abriu uma investigação, mas o procedimento não avançou. À época, Júlio Cézar negou as acusações e se disse vítima de armação.

  • 2019: O então presidente da Câmara, Mauricélio Fernandes, acusou o vereador de ameaçá-lo de morte. Júlio Cézar negou a suposta ameaça.

  • 2020: Em reunião com o, na época, secretário estadual de Infraestrutura Edilson Damião (atual vice-governador), o vereador foi acusado de agredi-lo e ameaçá-lo. O parlamentar, novamente, negou.

  • 2023 (novembro): Em sessão extraordinária, discutiu de forma exaltada com o vereador Sandro Baré durante votação sobre o concurso da Guarda Civil Municipal. Houve troca de ofensas, e o presidente da Casa precisou ameaçar desligar os microfones para conter o tumulto.

  • 2023 (fim do ano): Circulou um áudio, em tom homofóbico, no qual Júlio César admitia ter servidores recebendo sem trabalhar em seu gabinete. O vereador não apresentou esclarecimentos formais sobre o conteúdo.

  • 2024: Um aposentado o acusou de ameaça de morte e de construção irregular às margens do igarapé Água Boa, na zona rural de Boa Vista. O caso resultou em boletim de ocorrência e denúncia de crime ambiental ao Ministério Público e à Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

  • 2025: A mais recente acusação refere-se à agressão ao ex-assessor Marcos Dantas, culminando na abertura da sindicância atual e em pedido de cassação do mandato.

Tentativas de contato

A reportagem tentou ouvir o vereador Júlio Cézar mas recebeu a informação de que estava fora do estado por motivos de saúde. Até o fechamento desta matéria ele ainda não falou com a imprensa sobre sua versão dos fatos.

Próximos passos

Com o pedido de cassação formalizado, a Polícia Civil continua apurando a suposta agressão contra o ex-assessor. Marcos Dantas deve prestar depoimento novamente e reforçar a denúncia de que foi vítima de violência, inclusive apresentando laudos médicos que atestam a gravidade dos ferimentos.

A reportagem seguirá acompanhando o caso e aguarda novos posicionamentos tanto da Comissão de Ética quanto do próprio vereador Júlio Cézar Medeiros Lima, que está em seu quarto mandato consecutivo na Câmara de Boa Vista.

Compartilhe esta notícia: