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Indígenas são atacados dentro de abrigo; Casal é morto e deixa 7 crianças orfãs

O site da Agencia Pública publicou matéria denunciando o assassinato de um casal de indígenas venezuelanos que deixaram órfãos 7 crianças, entre eles um bebê de 5 meses que foi ferido a bala.

O pai do bebê, o sapateiro Yefersson de Jesus Montilla Matos, de 39 anos, morreu no dia do ataque, e a mãe, Miyela Perez Cardonaz, de 33 anos, morreu no hospital dois dias depois. O ataque a tiros foi na noite do dia 8 de janeiro na ocupação espontânea do bairro Pintolândia, zona Oeste.

As famílias se preparavam para dormir quando um homem armado entrou no abrigo e foi até o barraco de lona onde vivia o casal e seus sete filhos e disparou contra Matos e Cardona. Um bebê, de cinco meses, filho do casal, também foi atingido na mão e segue internado no Hospital da Criança de Boa Vista, mas sem risco de morte.

O assassino do casal indígena deixou sete crianças e adolescentes órfãos, que hoje estão sob a tutela da avó materna.

Segundo a Agência Pública apurou, sete dias após o assassinato, o boletim de ocorrência do caso ainda não foi despachado para nenhuma das equipes de investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Roraima. A diretora da repartição, delegada Miriam Di Manso, disse à Pública que diligências estão em curso e o “despacho é mera formalidade”.

As famílias que vivem no abrigo Pintolândia precisam enfrentar também fome, desnutrição e moradias precárias. Segundo os indígenas, ninguém havia assistido a um episódio de violência semelhante a esse desde a sua inauguração, em dezembro de 2016, antes mesmo do início da Operação Acolhida. Pelo menos sete tiros foram disparados de uma pistola de calibre 380, que, dependendo do modelo, pode custar até R$ 12 mil.

Myiela Cardona foi baleada enquanto segurava o filho de quatro meses no colo. Ela foi atingida por quatro disparos no braço, tórax, mamilos e pescoço. O bebê foi atingido na mão.

Na porta do abrigo, a indígena tentava resistir aos ferimentos enquanto a equipe de resgate não chegava. Segundo Pablo, a ambulância chegou após duas horas. Ela foi socorrida e levada ao pronto-socorro do Hospital Geral de Roraima (HGR), mas não resistiu e morreu dois dias depois, na madrugada de 10 de janeiro.

Dentro de um barraco montado com lonas e madeiras, estava Yerffersson Matos já sem vida e com o corpo estendido sobre a cama. Ele estava com três ferimentos de arma de fogo, disparados à queima-roupa.

Testemunhas disseram aos guardas civis municipais de Boa Vista que atenderam à ocorrência que o atirador era um homem alto, de cabelos claros, branco e com uma tatuagem de tigre no braço, mas o seu rosto não pôde ser visto, pois usava um capacete. Após ter efetuado os disparos, ele fugiu de moto com um suposto comparsa.

Na noite seguinte, enquanto a comunidade Warao ainda se recuperava do crime brutal, um grupo composto por oito homens entrou no Pintolândia e questionou aos moradores se Yerffersson Matos havia mesmo morrido. “Desde que sucedeu a morte do casal, começaram a entrar [homens armados] agora”, contou Pablo Rodriguez.

Como forma de garantir a segurança dos moradores da comunidade, os tuxauas – lideranças indígenas entre os Warao – optaram por colocar cadeados e trancar os portões todos os dias a partir das 20h.

“Ninguém vem aqui [fazer] segurança […] Qualquer ruído de moto, nós ficamos com medo”, disse o Warao.

O governo do estado disse que “a Polícia Militar de Roraima ressalta que realiza policiamento da área, por meio do 2º Batalhão de Policiamento Militar e unidades especializadas, como Grupamento Independente de Intervenção Rápida Ostensiva (Giro), Força Tática, Batalhão da Polícia de Choque e Canil”.

Três dos sete filhos do casal se aproximaram da urna funerária assim que ela foi posicionada em um espaço destinado à celebração da memória de Matos. Um deles clamava pelo pai morto enquanto segurava a borda do caixão.

Representantes do povo Warao no Brasil emitiram uma nota de repúdio ao assassinato de Matos e Cardona, na qual lamentam o crime e exigem das autoridades brasileiras que “conduzam uma investigação rigorosa e transparente sobre este crime hediondo, que não pode ficar impune”.

“Nós, do povo Warao, viemos a público expressar nosso profundo repúdio e indignação pelo brutal assassinato de uma mulher Warao, ocorrido na noite de quarta-feira, no abrigo Pintolândia, em Boa Vista. Este ato de violência, que também resultou na morte de seu cônjuge, é uma tragédia que não apenas ceifou vidas, mas também deixou sete crianças desprovidas de seus pais e em situação de vulnerabilidade extrema”, diz o documento.

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