Amazon e Disney são investigadas pela PF por comprar minério de garimpo Yanomami

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Duas das maiores empresas do mundo, a Amazon e a Walt Disney Company compram minério oriundo de garimpo ilegal em terras indígenas Yanomami no Brasil, entre os estados de Roraima e do Amazonas.

A informação foi veiculada neste domingo (3) pela Folha de S. Paulo, que teve acesso a dados de uma investigação lançada pela Polícia Federal (PF) e pela Comissão de Valores Imobiliários dos EUA.

Na investigação, a PF apurou as operações da mineradora White Solder Metalurgia e Mineração, que produz estanho em escala global. Ela foi alvo de uma operação da PF em 2023, após ser listada como destino de R$ 166 milhões em cassiterita proveniente da Cooperativa de Produtores de Estanho do Brasil, apontada pelos investigadores como intermediária entre a mineradora e organizações criminosas que praticam garimpo ilegal.

A investigação apontou que a White Solder consta no portal da Comissão de Valores Imobiliários dos EUA, como uma das fornecedoras de material para grandes empresas, entre elas a Disney, a Amazon e a Starbucks.

A White Solder foi alvo da operação Forja de Hefesto, em dezembro de 2023, por aparecer em registros como destino de R$ 166 milhões em cassiterita adquirida da Cooperativa de Produtores de Estanho do Brasil, que funciona como intermediária de uma suposta organização criminosa de extração ilegal de minério em garimpo na TI Yanomami.

Segundo os investigadores, de forma deliberada ou por negligência, a White Solder adquiria o material oriundo de garimpo ilegal por meio da Cooperativa de Produtores de Estanho do Brasil. Em seguida, o material era processado e vendido a multinacionais, incluindo big techs norte-americanas.

Procuradas pelos repórteres da Folha, a Amazon e a Disney optaram por não comentar o assunto. Já a Starbucks afirmou que está comprometida com valores éticos em toda sua cadeia de fornecedores, e informou não ter mais contratos vigentes com a White Solde

Consulta ao portal da Agência Nacional de Mineração (ANM) mostra que a empresa tem 17 requerimentos de exploração mineral ativos, 16 em Rondônia e um em Mato Grosso, todos para cassiterita ou minério de estanho.

A investigação da Polícia Federal vê a empresa como a ponta final de uma organização criminosa que envolve uma série de garimpeiros que atuam em lavras ilegais dentro da Terra Indígena Yanomami.

Ainda, a PF e o MPF apontam na investigação que a cooperativa efetuou transações com Rodrigo Martins de Mello, o Rodrigo Cataratas, empresário e político bolsonarista que lidera o movimento de garimpeiros em Roraima — ele não foi alvo da operação Forja de Hefesto.

Cataratas já foi preso por suspeita de compra de votos durante as eleições de 2022 e indiciado por crime ambiental no mesmo ano.

Segundo a PF, o empresário foi o principal destinatário de recursos da Coopertin, tendo recebido R$ 11 milhões (55% de toda a operação declarada de cassiterita da cooperativa), além de outros pagamentos, de um total de quase R$ 5 milhões feitos pelo intermediário da organização criminosa ao empresário do garimpo.

Ele, que tentou ser deputado federal em 2022 e não conseguiu, foi denunciado pelo Ministério Público Federal sob suspeita de chefiar a organização criminosa que comanda o garimpo ilegal em Roraima. Seu grupo movimentou R$ 200 milhões, em dois anos, e atuaria junto com uma organização maior, suspeita de transacionar R$ 16 bilhões em ouro ilegal.

Procurada, a defesa de Cataratas afirmou que negocia minério de forma legal e que não foi alvo dessa operação policial. “Rodrigo Cataratas não é parte requerida” da ação, ela “não diz respeito a ele, ela diz respeito a outras pessoas diversas”.

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