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Sebrae quer tornar arte paneleira indígena símbolo cultural de Roraima

O Sebrae/RR participou nesse fim de semana da 9ª edição do Festival das Panelas de Barro “Anna Komanto Eseru”, na Comunidade Indígena Raposa I, na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Normandia, realizado pela Associação Maikan Yerin, de artesãs paneleiras da região.

Em 2021, o Sebrae/RR desenvolveu o projeto Indicação Geográfica (IG) onde mapeia produtos ou serviços de determinadas regiões com aspectos culturais diferenciados e destacados na produção. Atualmente, 16 artesãs fazem parte da Associação Maikan Yerin.

“Apoiamos o Festival das Panelas de Barro onde iniciamos esse trabalho de aproximação e atendimento a essa Associação e estamos com a IG depositada aguardando a análise e caso saia, este ano ou em 2024, teremos a primeira Identificação Geográfica do Estado e a primeira Indígena do Brasil” destaca a gerente da Unidade de Inovação, Mercado e Serviços Financeiros do Sebrae/RR, Gabriele Ribeiro.

A IG visa o fortalecimento do aspecto cultural da região que acarretará mais visibilidade ao Estado e, principalmente, a região da Raposa I, a valorização ao trabalho das indígenas e abertura de portas para outros mercados. Conforme Gabriele, para chegar nas Panelas de Barro, o Sebrae/RR realizou mapeamento das potencialidades da região e consultoria para a Associação. “A ideia é fortalecer esse produto que é confeccionado com todo carinho por essas paneleiras”, completou.

O Festival atrai autoridades, acadêmicos, moradores das comunidades indígenas próximas a Raposa I, pesquisadores e turistas. Além de Gabriele, participou a analista de Gestão da Inovação, Mercado e Serviços Financeiros, Itamira Soares.

Larissa Guimarães, antropóloga.

Esta é a terceira vez da antropóloga Larissa Guimarães na comunidade.

“Gosto de acompanhar o Festival, das vezes anteriores comprei panelas e passei a acompanhar para apreciar os trabalhos das artesãs indígenas na confecção das panelas” contou.

No malocão, local central da Comunidade onde os indígenas da etnia macuxi se reúnem, são expostas panelas e outros objetos confeccionados com o barro, matéria principal, como jarras para água, copos, pratos, talheres, artigos para decoração, cofres, formas e refratários, bacias e vasos para plantas.

A cada edição, a comunidade procura integrar o visitante às experiências locais em oficinas para confecção das panelas de barro, experimentar a damorida, prato típico de peixe com pimenta, e beber o caxiri, a sangria (corte na pele), pinturas corporais, pimenta nos olhos e conversar com os anciões que relatam as histórias da “Vovó do Barro”.

Enoque Raposo, coordenador do Festival das Panelas de Barro.

O coordenador do Festival das Panelas de Barro, Enoque Raposo, destaca que o encontro ocorre para valorizar a cultura dos povos indígenas. “O objetivo é trazer os conhecimentos tradicionais das artes, dos costumes, das panelas de barro, da forma como viviam os nossos antepassados e hoje trazemos para perto as pessoas que desconhecem a cultura indígena”.

Com apoio do Sebrae/RR, as artesãs participaram de oficinas de precificação dos produtos.

“Tivemos vários cursos feitos pelo Sebrae para que pudéssemos melhorar, aperfeiçoar, os nossos trabalhos, voltados para o empreendedorismo, inovação dentro da perspectiva dos trabalhos com o empreendedorismo, com a consultoria, como fazer a precificação das panelas de barro” enfatiza Raposo.

Raposo está confiante pelo reconhecimento dos trabalhos das artesãs paneleiras na IG pelo Instituto Nacional de propriedade Intelectual – INPI “A IG é um importantíssimo projeto que vem sendo discutido dentro da comunidade e hoje que é, praticamente uma realidade de termos um produto exclusivo que vai ganhar o mundo pela procedência, de um produto típico aqui da nossa região”.

A coordenadora Regional da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Marizete Macuxi, ressaltou a importância da preservação da cultura e das parcerias para fortalecimento do Festival. “É muito importante ter a parceria como a da Funai, do Sebrae, da Universidade Federal, pois valoriza toda a região”.

O Festival das Panelas de Barro tem a parceria do Sebrae/RR, Funai, Podaali – Fundo Indígena da Amazônia Brasileira, ER Macuxi Turismo e Eku’pì Produções Criativas. Surgiu em 2012, como projeto de Extensão de Línguas Macuxi e Wapichana, da UFRR.

Histórias

Mitos e lendas enriquecem e valorizam o trabalho ancestral destas mulheres. Os conhecimentos passam de geração em geração e esta é a luta para se manter viva a tradição da comunidade, onde os detalhes se perdem com o passar do tempo. Só as mulheres são permitidas e devem seguir as regras, rigorosamente respeitadas.

Joana Fidelix, artesã.

A começar na busca e retirada do barro, feito manualmente e na “pernada”, conta a artesã Joana Fidelix, de 60 anos, que desde os 18 anos trabalha na produção das panelas de barro. “Eu era muito curiosa para fazer as panelas, para saber o porquê que a minha mãe, a minha avó e minhas tias faziam tudo separadas dentro de um quartinho. A minha curiosidade me fez gostar”, disse ela.

São necessárias horas de caminhada, que levam de 2h a 4h, lavrado a dentro. “De buscar até chegar na panela é um processo bem pesado, até acabar hoje eu vejo o que ela falava a peça. Hoje, quando eu faço a peça, eu faço com carinho, eu não consigo nem explicar o que é, eu faço porque eu gosto de fazer”, conta Joana.

Há outro detalhe: as mulheres pedem a permissão da “Vovó Barro”, entidade ligada a natureza, para retirada do recurso natural e necessário para confecção das peças que, individualmente, levam uma semana para ficar pronta. É proibida a retirada e manuseio por mulheres em período menstrual, enlutadas ou com sentimentos tristes.

“Chega, mais um dia para secar, depois que vai bater, pra peneira, depois vem a massa e depois para fazer. Um dia pra fazer, outro para acabamento, aquecimento e outro dia para queima. Melhor fazer umas cinco, seis, até mais, de uma vez só” descreveu, Joana, sua rotina.

Aos poucos, lembrou Joana, as mulheres anciãs começaram a morrer. Com elas, foram as técnicas mais ancestrais. Mas os conhecimentos recebidos foram repassados as jovens da região para que o costume permanecesse.

O apoio do Sebrae/RR com oficinas de precificação ajudou as artesãs a consolidarem a renda e a valorizar o esforço do trabalho 100% manual. “Passamos uns quatro anos trabalhando com Sebrae, quando a gente começou a vender, levar para o mercado. Como era só pra gente, a gente fazia rústica mesmo. Isso é bom pra gente porque a gente não sabia vender, não sabia colocar o preço. A gente vendia muito barato, mesmo sabendo do trabalho que dá, lenha, comida, tudo isso”, agradece.

Cleucimar Raposo, artesã.

O auxílio também é lembrado pela artesã Cleucimar Raposo, a benzedeira da Comunidade Raposa I.

“Primeiro que ninguém tinha apoio, agora tem o Sebrae. Agradeço a elas com o trabalho e pelas coisas que estamos praticando” pontuou.

A conservação da panela começa pelo seguimento das regras espirituais de quem a confecciona e das práticas por quem a compra. Conforme Cleucimar, para manter a panela apta para utilização por mais tempo precisa “curar” o utensílio. “Tem que curar. Como vocês não tem tucupi, tem que curar ela com óleo. Preparar [untar] por dentro e por fora e vai secando todinha”.

A panela untada com óleo de cozinha deve ser levada ao fogo direto, no carvão, por no mínimo 5 minutos até o óleo secar. É aconselhável evitar usá-la em fogão no primeiro momento.

Link: https://rr.agenciasebrae.com.br/

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